TRANSCODIFICANDO UM ATARI VCS

Eu tinha dois velhos videogames Atari aqui em casa... um deles era um Atari 2600 brasileiro (daquele modelo inteiro "pretão" que os colecionadores conhecem como "Darth Vader"). Esse, depois de cerca de 40 minutos de uso, gerava uma interferência horrível no vídeo que impossibilitava qualquer diversão. O outro, importado... um raríssimo Atari VCS "woodgrain" (frente imitando madeira), conhecido pelos colecionadores como "light sixer", por ser mais leve que o primeiro modelo (o "heavy sixer") e ter 6 chaves no painel. Só que esse último só gerava imagens em preto e branco, pois não era nem PAL/M, nem NTSC e imagino que tenha vindo da Europa.

Eu já estava cansado de ficar estudando os circuitos do "Darth Vader" para tentar resolver o problema dele, bem como tentar fazer o "Light Sixer" gerar imagens em cores, ainda que NTSC, inclusive trocando cristal... e nada. Até que um belo dia tive a "brilhante" idéia de "transplantar" o transcoder do "Darth Vader" para dentro do "Light Sixer" e... não é que funcionou?

A imagem ficou simplesmente espetacular. As cores são as mesmas de um Atari VCS brasileiro (certos jogos apresentam cores diferentes nos Atari brasileiros em relação aos americanos (NTSC) e também diferentes dos europeus (PAL/N, PAL/G, etc.) pelo fato de sinal de sincronismo ser diferente, bem como o processo de decodificação de cores.

Se você tiver algum conhecimento em eletrônica e for louco como eu a ponto de "envenenar" o seu raríssimo Atari VCS de modo a faze-lo "se sentir" como um Maverick V8 "tunado", aqui está tudo documentado aqui como eu fiz (OK! As imagens estão péssimas graças a uma webcam que usei ao invés de uma câmera digital decente... casa de ferreiro...), mas só uns avisos:

  1. EU NÃO ME RESPONSABILIZO SE VOCÊ DANIFICAR O(S) SEU(S) APARELHO(S) DE VIDEOGAME, de modo que você fizer com eles é responsabilidade única e exclusivamente sua.
  2. A modificação que estou documentando aqui, funcionou perfeitamente EM APENAS 2 DOS 3 TELEVISORES EM QUE TESTEI, portanto, não é 100% livre de "bugs". Especulo que seja alguma limitação do modulador de RF do Atari gringo, que apesar de gerar uma imagem muito melhor que a do Atari brasileiro (mesmo sem a blindagem, que dizem ser "a responsável" pela melhora significativa de imagem).
  3. Podem haver erros nesta página. Errar é humano! Se você descobrir erros, por favor, me informe o mais rápido possível, OK? Para fazer isso, me mande um e-mail.

O que você vai (ou pode) precisar:

Mão na massa:

Pús o soldador para esquentar e abri cuidadosamente os dois aparelhos...

Eu já tinha (de outras tentativas), descoberto que conseguiria um sinal de vídeo bem mais estável se eu retirasse um estranho capacitor da parte de baixo da placa do meu "Light Sixer" que não constava em nenhum dos esquemas elétricos de Atari VCS/2600 que baixei da internet (mais precisamente do Atariage que considero "o site" de referência para colecionadores de Atari) e substituí-lo por um pedaço de fio:

"Informação é poder!" E é claro... eu não podia ficar soldando o transcoder assim, a torto ou direito no meu raríssimo "Light Sixer". Então, comecei a estudar a plaquinha do transcoder:

Vejamos... o fio "A" é ligado ao "negativo comum" (GND), o fio "B" ao terminal 20 do TIA (+5Vcc), o fio C ao terminal 2 do TIA (Sync) e finalmente o fio D, liga a algum ponto do circuito que tenha o sinal de Chroma, ou crominância.

TIA ou STELLA é o chip mais importante dos Atari VCS, 2600 e compatíveis.
É o responsável por geração de imagem, detecção de colisões dos elementos gráficos, geração de som, entre outras coisas.

Aí foi fácil! Para ajudar, o Atari VCS tem vários pontos muito convenientemente preparados na placa principal que facilitaram muito o trabalho:

O fio "A" pôde ser soldado num furo do lado do RIOT...

O fio "B" soldei num terminal do resístor R212, mas poderia ser soldado em qualquer ponto de 5Vcc do circuito.
O fio "D", soldei num conveniente furo do lado do capacitor C212, que era exatamente o ponto de sinal de chroma que eu procurava.

Já o pino C foi soldado no terminal do R221.

Mas isso não era o suficiente para termos cor no nosso Atari VCS...

Foi preciso substituir o cristal original de 3,54MHz (outra pista de que tratava-se de um Atari europeu) por outro de 4MHz, que eu aproveitei também do meu Atari "Darth Vader" brazuca...

Aí... a foto do "tunning" no meu Atari VCS...

Empacotei o transcoder num pedaço de feltro auto-adesivo desses bem flexíveis para isola-lo de possíveis curto-circuitos e remonta-lo parcialmente, ou seja, sem a tampa, de modo que eu pudesse ajustar o "delay" da cor (através do trim-pot) e a freqüência do modulador de RF com uma chave de ajuste de FI antes de fechar o aparelho definitivamente.

A essa altura você deve estar se perguntando o que sobrou do meu Atari 2600 "Darth Vader", né?

Marquei todos os pontos onde o transcoder estava ligado...

e pús um cristal de 3,579545MHz. Aí... ele ficou NTSC!

Depois, "puxei" saídas de áudio e vídeo composto... mais ou menos como o descrito no site do Eduardo Lucas... Digo "mais ou menos" porque ele descreve a modificação com um aparelho que usa uma placa diferende da placa do meu Atari nacional, embora seja o mesmo modelo e do mesmo fabricante.

Para facilitar as coisas, marquei aqui de onde eu puxei os fios para a modificação que permite ao Atari ter saídas A/V, sugerida pelo do Eduardo Lucas em seu site e pasmem! A imagem e o som ficam mesmo impressionantemente nítidos.
Mas após 40 minutos de uso, o meu velho Atari "Darth Vader" continuava gerando algum tipo de interferência, só que agora muito menos significativa da que gerava, mas o suficiente para incomodar.
Após um bom tempo quebrando a cabeça, concluí que o problema vinha de dois capacitores do circuito de áudio que aliás, não eram mais necessários, pois eu já estava usando as saídas A/V. Logo... não tive dúvidas: retirei-os sumariamente.

Sucesso e surpresas:

As modificações fizeram tanto sucesso que um amigo meu me pedir para fazer em seu Atari, as mesmas modificações que fiz em meu Atari "Darth Vader"... Mas para a minha surpresa, a placa dele era diferente da minha e também diferente da descrita no site do Eduardo Lucas.

Tive novamente de estudar o caso... e constatei que o meu Atari "Darth Vader" tinha placa CO15519 Rev.13 enquanto que a placa do "Darth Vader" dele era CO15519 Rev.17 e logo, era mais recente.

Entre as diferenças que observei, o cristal original do Atari dele era de 3,575611MHz enquanto o meu tinha um cristal de 4MHz e que foi parar no meu Atari VCS gringo... o que talvez explique por que o meu Atari VCS gringo modificado para PAL/M não gerava cor em alguns televisores. (?)
Embaixo da placa, havia dois componentes a mais: um capacitor de 1,5nF e um resistor de 560 ohms.
Havia também um circuito integrado a mais, mas não parecia ter nenhuma função que alterasse o nosso projeto de modifica-lo...
Mas o que realmente me deixou espantado foram as mudanças do lado do TIA, o que me fez ter de remapear os pontos de ligação para a modificação

(Este texto pode ser publicado total ou parcialmente, desde que citada a autoria de Claudio H. Picolo)